O que não esquecer de cultivar no Natal de 2023

Num mundo da Disney, todos viveríamos o Natal da mesma forma , ou pelo menos com os mínimos assegurados. Sem desafios emocionais, financeiros ou sociais. Num mundo como o nosso, em que acontece um estranho regresso a épocas passadas de menor desenvolvimento moral e cultural, não há como ficar indiferente ao ano de 2023 e ao que não será um mais um Natal.

Por Joana Russinho, People Enthusiast, head of Human Resources e autora de “Eu e os Meus rh

Não sendo uma pessoa pessimista, ainda não me dou como derrotada e acredito que há um ângulo de oportunidade para refletirmos: a consciencialização da sociedade sobre as diferentes catástrofes mundiais e pandemias nacionais, durante o Natal, pode desempenhar um papel crucial na promoção da empatia – que é o ingrediente para mim mais necessário de cultivar em tempos atuais.

Ora vejamos:

  1. Eu não consigo ver os telejornais há algum tempo, mas mantenho-me atualizada, de outras formas, e reconheço o papel de determinados meios de comunicação social como agentes de disseminação de informações fidedigna e de contextualização dos eventos para o público em geral. Permitindo que as pessoas compreendam a gravidade das situações e se sintam mais conectadas com as comunidades afetadas. É mais cómodo evitar conhecimento que nos causa desconforto, mas pior é fingirmos que nada se passa.
  2. E ainda bem que nem todos praticam a retenção seletiva de informação. Não me recordo de ter assistido a tantos fenómenos de ajuda como agora. A consciencialização sobre o que se passa além das nossas muralhas tem incentivado verdadeiras campanhas de solidariedade. Em movimento, as organizações sem fins lucrativos, os grupos de ajuda humanitária e pessoas sem nome , intensificam os seus esforços para ajudar como podem. Estes últimos são os meus novos heróis deste Natal.
  3. Os meus outros heróis deste Natal, são todas as vítimas de flagelos emocionais, financeiros ou sociais. Felizmente , começam a ter coragem de emprestar as suas vozes, havendo vários testemunhos. Escutar estes sobreviventes (seja de que infortúnio for) a partilhar o que viveram e como se superaram ajuda-nos a ter uma melhor perceção do que significaria “estar lá”.
  4. Um incentivo aos líderes de opinião que participam em campanhas de sensibilização e apelo à ação. São também quem influencia atitudes e comportamentos. É-nos mais fácil agir se as pessoas a quem atribuímos crédito o fizerem. Vamos lá liderar pelo exemplo!
  5. Mas para isso é preciso conseguirmos sair da redoma que nos torna menos humanos, menos empáticos. Estarmos atentos, ver com olhos de ver e agir quando surge uma necessidade, ajuda-nos a ser menos auto-centrados e a comungar de uma consciência coletiva, solidária e preventiva. Não podemos mudar o mundo, mas temos a obrigação de tentar fazer alguma coisa para melhorar o nosso, o dos nossos e porventura o de alguém que connosco se cruze.

Passou-me há pouco pelos olhos, um vídeo de um homem que, ao entrar numa carruagem de um metro, algures neste mundo, no ano de 2023, ficou com o pé entalado entre a carruagem e a plataforma. Em minutos um rio de pessoas empurrava a carruagem para que o homem conseguisse soltar o pé. Ainda bem que a empatia reinou sobre a indiferença. Ainda há esperança. Que nunca nos falte esta capacidade de nos colocarmos no lugar do outro.

Este não será mais um Natal! Aumenta a dificuldade de driblar a vida, bem sei. Mas cultivemos a empatia, para que seja um período pelo menos mais verdadeiro e solidário.

Feliz Natal para TODOS, com muita empatia, p.f.!

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