Os portugueses e os novos modelos de organização

Por Ricardo Florêncio

É tema recorrente nos nossos diversos eventos, seja em conferências, fóruns, almoço e pequenos-almoços de discussão. Os novos modelos organizacionais das empresas são uma verdade com que nos deparamos no dia-a-dia. E é um processo que se foi construindo por si, por necessidade, por evolução, e não por uma ordem. A necessidade de criar estruturas menos pesadas, com menos níveis hierárquicos e matriciais, equipas multifacetadas e multidisciplinares, líderes que são responsáveis por algumas equipas, mas parte integrante de outras, uma cada vez maior delegação pela rapidez com que têm de ser tomadas decisões, etc. São inúmeras as razões e motivos que obrigaram as empresas a alterar radicalmente o seu modo de funcionamento, de report, de processos, de organização. E, assim, muitas das empresas fizeram-no não por decisão estratégica, mas porque foram literalmente obrigadas a isso. Certo? Bem, mais ou menos! É verdade, a larga maioria concordaria com o princípio – mas muitas vezes aplicado no “quintal do vizinho”. E aqui entra muito o modo de funcionamento de nós próprios, portugueses, e da nossa sociedade. O cargo que ocupamos, o título que detemos nas organizações, o número de pessoas que lideramos, as responsabilidades que temos são, para nós, um estatuto na sociedade.

Portanto, qualquer perda, ou percepção de perda, de algum tipo destes poderes (ou mesmo “poderzinhos”) é muito mal visto e não é aceite pelas pessoas. Contudo, acrescente-se outro problema: geralmente não há frontalidade nesta opinião. Ou seja, aquando destes processos, e apercebendo-se de que é uma “onda” que está em andamento, muitas pessoas até respondem afirmativamente, mas posteriormente começam a inquinar todo o processo, a colocar entraves, e mesmo a sabotar os novos modelos organizacionais. E quantas vezes ouvimos: “Eu não disse?”

Pode ainda demorar algum tempo, pois é claramente uma característica da sociedade e do modelo de funcionamento da mesma. Agora, que ninguém tenha dúvidas: não irá voltar para trás!

Editorial publicado na revista Human Resources nº 105 de Setembro de 2019