Para ser alcançada a produtividade depende muito das lideranças

A questão essencial de perceber o que é ser ou não ser produtivo está na ordem do dia, sobretudo depois de, em consequência da pandemia causada pela Covid-19, muitas empresas se terem visto na obrigação de mandar grande parte dos colaboradores para casa em sistema de home office. Este foi o ponto de partida para a (re)talk onde participaram Eric Teixeira, director de Recursos Humanos da Groundforce, e David Ferreira, Sales & Operations Director da Randstad, e que contou com a moderação de Ana Leonor Martins, directora de Redacção da Human Resources.

Por Sandra M. Pinto

O ponto de partida veio da responsável da Human Resources aos questionar os dois intervenientes sobre se efectivamente ninguém se entende relativamente ao conceito de produtividade, com o foco nas equipas e nos colaboradores que estiverem e alguns ainda estão em teletrabalho. No caso da Groundforce, empresa que tem algumas especificidades, apenas 2% ou 3% dos trabalhadores é que estavam elegíveis para passar para o sistema de teletrabalho, sendo que os outros 97% dos profissionais que representam o quadro da empresa não podendo estar em casa, estiverem maioritariamente em lay off.

«Avaliar se foi produtivo ou não é complicado, pois não pudemos comparar com o cenário anterior à crise pandémica porque tivemos áreas que tiveram um aumento de trabalho, e outras viram o seu volume de trabalho reduzido», refere Eric Teixeira, «temos casos de equipas que tiveram de agarrar num conjunto de processos novos, nomeadamente na área de recursos humanos, devido às necessidade de adaptar a empresa a este novo contexto e o teletrabalho obrigou a uma adaptação de todas as pessoas, sendo que na minha opinião funcionou bastante bem, porque foi possível contemplar um conjunto de objectivos e actividades que puderam ser acompanhadas».

No caso da Randstad foi feito um trabalho de ajuste e adaptação a esta nova realidade com a empresa a colocar um grande número de colaboradores em teletrabalho, «como em todas as adaptações tivemos um período em que tivemos uma redução de produtividade, mas rapidamente a situação regressou ao normal com a produtividade a atingir os níveis expectáveis», tendo sido o mesmo sentido pelos clientes da consultora, refere David Ferreira.

E relativamente aos critérios de avaliação, mantiveram-se ou houve necessidade de proceder a um reajuste? «Com a nova realidade que estamos a viver a produtividade vai ter se ser toda repensada em termos de métricas e ajustes», refere Eric Teixeira, «estamos numa situação em que temos de propiciar a polivalência pois só assim conseguiremos ser mais produtivos». Para o responsável, medindo em termos de eficiência e de eficácia, «a produtividade neste momento carece de conseguir potenciar a utilização dos nosso recursos». Esta é uma fase de reavaliação de toda a engenharia de processos, «para isso temos de pensar para onde queremos ir e de que forma queremos chegar aos nosso objectivos», defende Eric Teixeira, «sendo que temos de ir avaliando a evolução do próprio negócio da aviação».

«A produtividade é um dos factores que define se as organizações se vão conseguir manter para o futuro», sublinha David Ferreira, «em termos de indicadores de produtividade não me parece que vão ser alterados ou transformados, parece-me é que vamos olhar para todos os desperdícios e que estão  reduzir o rácio de produtividade». Devemos ter sempre em conta que produtividade é a quantidade de tarefas que se conseguem executar em menor tempo e com menor custo, «como tal importa perceber se a quantidade de tarefas ou se o tempo despendido nessas tarefas pode ser melhorado ou não», chama a atenção David Ferreira.

Eficiência e eficácia

Todos os conceitos estão interligados, eficiência e eficácia, sendo que a produtividade está relacionada com todos eles. «A produtividade tem uma relação com os resultados atingidos e com os meios que são utilizados e alocados para o alcance desses mesmos resultados», refere Eric Teixeira, «em termos de Groundforce temos de olhar para a parte operacional e depois para a parte de back office, pois estamos numa fase em que temos de canalizar esforços para outro tipo de funções de recursos humanos que não teríamos na fase antes da pandemia». Ao nível das operações,  Eric Teixeira defende que a organização terá de trabalhar a parte da polivalência, «repensando a forma como podemos fundir algumas áreas, descontinuar algumas actividades, e de que forma podemos garantir uma utilização mais eficiente das nossas pessoas  de forma a nos conseguirmos adaptar a esta nova realidade».

Presentismo e produtividade

«Vivíamos um contexto de crescimento antes da Covid-19», faz questão de relembrar David Ferreira, «os nossos orçamentos e a nossa perspectiva era sempre de crescimento, tínhamos as pessoas próximas de nós, pelo que havia uma sensação de presentismo muito grande, e atenção, estar presente não significa ser produtivo, mas a conjugação destes dois elementos com a adaptação a uma nova realidade pode trazer a sensação de menor produtividade por não estar presente no escritório a determinados género de gestores».

«Portugal é o sétimo país com menos produtividade na Europa», relembra o director de Recursos Humanos da Groundforce, «mas certamente não é o sétimo país onde se trabalha menos, basta perceber isso olhando para o volume de horas», defende o responsável. Para Eric Teixeira é importante que a produtividade para ser alcançada ou para ser perceptível depende muito da liderança das pessoas. «O colaborador para ser produtivo tem de ter bem claro o que tem para fazer, quanto tempo tem para o fazer pelo que o teletrabalho muitas vezes não é visto com bons olhos por parte dos lideres porque dá um grau de responsabilidade maior a quem orienta as pessoas», refere, «as pessoas podem trabalhar bastante em casa, mas se o trabalho não estiver bem orientado podem não ser produtivas».

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