Pro_Mov. Acelerar Portugal, reforçar a competitividade económica e transformar vidas

Tem como objectivo requalificar para o emprego e, a completar dois anos em Portugal, o Pro_Mov alcançou uma taxa de empregabilidade imediata superior a 80%, graças aos esforços conjuntos de empresas, associações e Estado. É uma iniciativa europeia, e o nosso país é o que apresenta mais cursos criados de raiz com base nesta metodologia.

Por Tânia Reis

 

A iniciativa europeia “Reskilling 4 Employment” (R4E) analisou o impacto da transição verde e digital no mundo do trabalho, levando à criação do Pro_Mov, um programa de requalificação que tem como objectivo capacitar as pessoas em idade activa para os empregos do futuro. Em Portugal, teve início em Dezembro de 2021, impulsionado pela Sonae, Nestlé e SAP, lado a lado com o sector público, através do IEFP – Instituto do Emprego e Formação Profissional, e em estreita cooperação com o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS). «Estamos muito contentes com o resultado destes primeiros dois anos», afirma Marta Cunha, líder da equipa de Gestão do Pro_Mov e head of Transformation da Sonae.

Além da definição de um programa de requalificação de raiz, do envolvimento de duas relevantes associações empresariais, e do trabalho activo com mais de 50 empresas, foi possível «transformar a vida de centenas de pessoas. No Pro_Mov, medimos o sucesso por este último factor, pelo que termos uma taxa de empregabilidade imediata superior a 80%, nos primeiros cursos, assegura-nos de que estamos no caminho certo», destaca.

Recentemente, foi formalizada a participação da Associação Business Rountable Portugal, «parceiro fundamental do projecto, que cedo se juntou a esta iniciativa, trazendo-lhe escala através da entrada de dezenas de empresas portuguesas dos mais variados sectores». Outra novidade foi a entrada da CIP, que «vem reforçar a capacidade de chegar ainda a mais parceiros, alargando o potencial de oferta disponível do Pro_Mov».

Marta Cunha garante que o foco é partilhado por todos – «acelerar Portugal, reforçar a competitividade económica e transformar vidas» –, e convida todas as organizações a participar, até porque «o sucesso deste programa depende da participação activa das empresas portuguesas».

 

Identificar, desenvolver e formar
Actualmente, contam com mais de 50 empresas a trabalhar activamente no projecto, e todas participam na construção de um futuro mais inclusivo para pessoas em idade activa. O processo é simples: as organizações, integradas num dos sete laboratórios existentes, em função das especificidades dos respectivos sectores de actividade, experiência e know-how, «dão a conhecer as suas necessidades concretas de competências».

Seguidamente, «cada laboratório desenvolve o plano de formação mais adequado, actualizado e direccionado às reais necessidades da economia», tendo em conta «o levantamento das competências técnicas e humanas para o desempenho da ocupação específica», esclarece a líder da equipa de Gestão. Cada um dos sete laboratórios que integram o Pro_Mov é liderado por um parceiro, e dividem-se em Indústria (Nestlé), Agricultura (Sogrape), Digital (SAP), Green Jobs (EDP), Vendas (Delta), Healthcare (Hovione, CUF) e Business Intelligence (Worten).

Com o apoio do IEFP, «é feita a comunicação do curso, para a zona geográfica definida, uma vez mais, em função das necessidades das empresas», ao qual se segue o processo de selecção dos formandos. «Esta etapa é das mais críticas em todo o processo», reconhece Marta Cunha. «Não nos podemos esquecer que um processo de requalificação é muito exigente. Implica motivação, flexibilidade, capacidade de aprendizagem e muita resiliência», e enaltece o apoio fundamental do IEFP, não só na definição curricular, mas «principalmente na implementação da formação em sala propriamente dita».

O processo de formação inicia-se com os módulos teórico-práticos ministrados pelo IEFP, seguidos da formação prática em contexto de trabalho garantida pelas empresas, conferindo aos formandos competências diferenciadoras e aumentando exponencialmente as probabilidades de uma entrada rápida no mercado laboral.

«Este desenho de formação proporciona não só a componente conceptual, mas também a possibilidade de aplicação dos conhecimentos em contexto real, de forma a garantir que o formando está pronto para recomeçar o seu futuro numa nova profissão», destaca.

 

As competências certas
Dado que o objectivo é uma requalificação para o emprego, os cursos são direccionados para ocupações específicas, ou seja, «englobam todas as competências necessárias para que alguém possa desempenhar uma profissão nova, independentemente da sua base de conhecimento, sejam elas técnicas ou humanas, pois só assim teremos perfis completos », realça Marta Cunha.

Isso significa que, no momento da definição do percurso formativo, é feito um trabalho de levantamento de hard e soft skills para o desempenho de determinada ocupação específica. «Esse levantamento vai apoiar a definição do percurso formativo, para assegurar que, no final da formação, o formando está munido de todas as “ferramentas” necessárias ao cumprimento da sua nova função.»

Ainda que o Pro_Mov tenha sido desenvolvido com o foco na população desempregada ou em risco de desemprego – «pois é aquela que precisa de um apoio imediato» – e os cursos funcionem maioritariamente em horário laboral, a líder da equipa de Gestão revela que já estão a «preparar as primeiras experiências para activos empregados», pois é através da antecipação do processo de requalificação que é possível evitar que mais pessoas possam perder os seus empregos. Daí a importância de as áreas definidas estarem já alinhadas com o que considera ser os empregos de futuro. «Por um lado, temos os “novos” empregos emergentes das transições digital e tecnológica, por outro, temos as profissões que já existem e vão perdurar no tempo e onde existe uma elevada taxa de empregabilidade.»

Marta Cunha acredita que as transições digital e ecológica vão marcar as próximas décadas, em todos os sectores de actividade, tanto em Portugal como no resto do mundo, obrigando a uma revolução no mundo do trabalho. «Quer pelas oportunidades que criam, exigindo novas competências e originando novas profissões; quer pelo desafio da requalificação necessário, para todos aqueles que vêem as suas ocupações transformadas. » Salienta ainda que, «paralelamente, não nos podemos esquecer que há um conjunto de áreas e sectores que vão continuar imunes a estas transições digital e ecológica, em que a qualificação e educação é igualmente necessária».

Não obstante a actual reduzida taxa de desemprego em Portugal, a responsável considera que «na verdade, o que existe é um gap entre as competências necessárias e as competências existentes, tornando ainda mais premente a requalificação». Num cenário em que «as empresas são as primeiras a sentir na pele as mudanças do mundo, e o sistema de ensino só irá reagir posteriormente», defende que, «para sermos mais ágeis a cobrir esse gap, tem de existir uma aposta séria na requalificação», de forma a «ter cada vez menos pessoas em situações de desemprego ou em risco de desemprego».

Acreditando que muitas das actuais profissões vão desaparecer nos próximos anos, o Pro_Mov pretende proporcionar um novo futuro, ao capacitar pessoas que necessitam de uma «requalificação para voltarem à vida activa, para melhorarem a sua situação profissional, ou para assegurarem um trabalho no futuro».

Outra das preocupações reside no envelhecimento populacional, que não é descurado no Pro_Mov, já que «não tem limite de idade. Há uma parte da força de trabalho, menos jovem, onde a aposta na educação e formação profissional foi sendo esquecida», reconhece. «Por isso, a requalificação e educação desta camada de população é cada vez mais importante.»

 

Leia o artigo na íntegra na edição de Novembro (nº.155) da Human Resources, nas bancas. 

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