Sete (novas) tendências para o sector dos Recursos Humanos em 2023

O mundo do trabalho ficou de pernas para o ar no ano passado, à medida que as demissões em tecnologia se amontoaram. Como sairão afectados os Recursos Humanos neste novo ano?

 

Lars Schmidt, fundador da Amplify, empresa que apoia empresas e líderes de RH a navegar no novo mundo laboral, reflecte, na Fast Company, que os últimos três anos foram dos mais consequentes e perturbadores que já vivemos. Basta adicionar à pandemia, o trabalho remoto, justiça social, guerra, conflito geopolítico, mercados de contratação em expansão, inflação, demissões, entre outros.

Entrámos em 2022 num mercado de trabalho em alta. Os pacotes de remuneração aumentavam à medida que as empresas competiam ferozmente por talentos, desde directores de pessoas a recrutadores e fornecedores. Os feeds do LinkedIn foram inundados com novos anúncios de emprego. Depois de navegar pela turbulência dos últimos anos, o sector de recursos humanos foi finalmente elevado a um lugar de importância estratégica fundamental para o C-level e para o negócio.

No segundo trimestre, as brechas foram surgindo à medida que a incerteza económica se aproximava e as empresas começaram a apertar os seus planos fiscais e orçamentos.

No sector da tecnologia, onde o fluxo livre de capital de risco alimentou a vaga de contratações nos últimos anos, as empresas começaram a cortar pessoal, iniciando uma onda que cresceu para quase 150 mil demissões em mais de 900 empresas, de acordo com o site Layoffs.fyi.

No quarto trimestre, a mudança e a volatilidade eram as únicas constantes nas quais podíamos confiar com segurança e o burnout tornou-se comum à medida que carregamos o peso colectivo dessas experiências.

Apesar dos avisos de uma recessão e das demissões no sector tech, os alarmes não estão a tocar… ainda. Relatórios de emprego nos EUA mostram que os números aumentaram 263.000 em Novembro, superando as expectativas e observando aumentos notáveis em sectores como saúde, serviços técnicos, lazer e turismo.

Contudo, de acordo com o Workforce Report do LinkedIn, as contratações desceram 4,9% em relação a Outubro e caíram 20,5% em relação ao ano anterior.

Ao entrarmos no novo ano, o sector de recursos humanos carrega lições duramente aprendidas nos últimos tempos que moldarão o caminho a seguir.

Eis de que forma o mundo dos recursos humanos será diferente em 2023:

Priorizar o autodesenvolvimento

Existem dois determinantes críticos de sucesso no novo mundo do trabalho: agilidade de aprendizagem e equidade de rede. A capacidade de priorizar ambos será essencial.

Agilidade de aprendizagem é fundamental, pois a volatilidade continuará a definir o mundo laboral A capacidade de aprender, sintetizar e implementar rapidamente novas ideias vai moldar o sucesso de cada profissional. Isso significa que a aprendizagem deve ser incorporada nos fluxos de trabalho semanais. Estar “muito ocupado” com as exigências do emprego não é viável. Precisamos de ser egoístas, para o nosso próprio crescimento e capacidade de agregar valor ao negócio.

A equidade de rede também é importante, pois, actualmente, o sucesso em recursos humanos é mais do que o conhecimento e a experiência que se possui directamente; é o conhecimento e a experiência a que se tem acesso. A sua comunidade nunca foi tão importante. A construção proactiva de uma rede robusta de experiências e competências ajudá-lo-á a navegar pela variedade de situações e experiências em 2023.

As demissões do ano passado mostraram que nenhum emprego é para sempre. O colaborador tem de começar a pensar na sua carreira como empreendedor, garantindo que investe em si mesmo e não apenas na empresa.

 

Repensar remuneração e benefícios em direcção à transparêncial salarial

Nos Estados Unidos são vários os estados a implementar a lei que exige a divulgação das faixas remuneratórias na descrição de cargos. Apesar de estarmos longe dessa realidade em Portugal, é importante não descurar a equidade salarial.

A mudança em direcção à transparência salarial exige que os recursos humanos pensem sobre remuneração, equidade e como definir salários totais de forma mais ampla. O impacto nas descrições de emprego deve ser maior do que um intervalo numérico. É fundamental fornecer mais contexto sobre a gama de benefícios oferecida. Desenvolvimento de carreira, formação, cultura e reconhecimento devem estar de alguma forma reflectidos num quadro mais amplo do que os candidatos podem esperar além da faixa salarial.

 

Insistir nos esforços de diversidade, igualdade e inclusão

Apesar dos avanços na justiça social e equidade, os progressos em recursos humanos têm sido modestos. Em 2023, é essencial não deixar que a incerteza económica impeça os esforços na construção de um mundo de trabalho mais igualitário.

 

Migração de talentos com inovação

À medida que o mercado de trabalho no sector tecnológico se tornou uma onda de anúncios de demissões, muitos daqueles que fizeram carreira em tecnologia agora estão a contemplar novos sectores. Essa migração de talentos pode servir como um acelerador na evolução dos recursos humanos, já que as práticas progressivas de “move fast” de Silicon Valley encontram o seu caminho para sectores mais tradicionais.

Fenómeno semelhante foi observado nos anos anteriores à pandemia, quando a área de recursos humanos se tornou destino de cientistas de dados, profissionais de marketing, designers e líderes empresariais. O influxo de novas experiências e mentalidades expandiu a capacidade e impacto do sector. Terá esta migração de talentos um efeito semelhante?

 

O domínio das competências

Na verdade, o recrutamento não mudou muito nos últimos 20 anos. Descrições de funções mal escritas, envio de currículos em catadupa, recrutadores avaliam experiências e filtram-nas para seleccionar cada candidato.

A forma como pensamos o recrutamento e o desenvolvimento de talento tem de mudar. A mudança para uma contratação baseada em competências (e não na função) só vai acelerar este ano. Os benefícios são claros: grupos de talentos mais adequados, melhor representação e alcance, oportunidades de crescimento, mobilidade interna e velocidade de contratação.

 

O antigamente já não existe

Fenómenos como a “great resignation” levaram as empresas a pensar de maneira diferente sobre como atrair e reter talento. Nos últimos anos, houve uma mudança na forma como as empresas cuidam das necessidades dos colaboradores, desde benefícios de saúde mental a trabalho remoto e híbrido, para maior flexibilidade sobre quando/onde/como o trabalho é feito.

Apesar de algumas multinacionais, como o Twitter e a Amazon, terem enveredado por um caminho pautado por ultimatos “hardcore”, avisos públicos aos colaboradores e tendências como #SleepWhereYouWork, a realidade é que esse mundo de trabalho já não existe.

 

Inteligência artificial já

A chave para os recursos humanos é entender como podem tirar proveito da Inteligência Artificial e usá-la como uma ferramenta para ajudar a melhorar os processos de recrutamento e atracção de talento.

Aprender a trabalhar com questionários de IA será uma competência valiosa de recursos humanos em 2023.

Ler Mais