Tem falta de programadores? Esta empresa está a ensinar (em duas semanas) não programadores a desenvolver software

Um dos eixos da missão da Quidgest é dotar o talento nacional e internacional com a capacidade de desenvolver software sem ter de passar centenas de horas em cursos de programação, porque acredita que o futuro da tecnologia depende da diversidade de perfis que juntam um conhecimento aprofundado nas mais diversas áreas.

 

Por Sandra M. Pinto

 

O ano de 1988 marcou o nascimento da Quidgest, empresa que se apresenta ao mercado como pioneira na utilização de inteligência artificial aplicada ao desenvolvimento de software de gestão. Contando actualmente com cerca de 100 colaboradores, a sua missão passa por dois eixos, que Hugo Miguel Ribeiro, VP People Operations IS da Quidgest, identifica:

– O primeiro passa por equipar as empresas de soluções tecnológicas que «estão sempre prontas para o futuro, ou seja, ao implementar o software que desenvolvemos, as organizações podem contar com funcionalidades sempre actualizadas às suas necessidades e nas últimas linguagens de programação», garante.

– O segundo visa dotar o talento nacional e internacional com a capacidade de desenvolver software sem ter de passar centenas de horas em cursos de programação. «Com apenas uma semana de formação e outra de prática, as pessoas que passam pela nossa academia são capazes de desenvolver software sem nunca terem tido aulas de programação. Desta forma, não só estamos a contribuir para que profissionais especialistas em domínios extra-tecnologia utilizem este conhecimento nas suas áreas de actuação, criando produtos/serviços que se adequem melhor às necessidades dos seus clientes ou colegas, como também estamos a diminuir o défice de profissionais qualificados no desenvolvimento de tecnologia.» Mudança de paradigma Mas vamos perceber do que é que estamos a falar. Por programação, entende-se a actividade de desenvolvimento de tecnologia».

 

Mudança de paradigma
Mas vamos perceber do que é que estamos a falar. Por programação, entende-se a actividade de desenvolvimento de programas, aplicações ou software, sendo por isso ela o aspecto central do futuro digital. «Está na base de todas as aplicações que corremos nos nossos computadores, telemóveis e outros dispositivos electrónicos», explica o responsável.

A realidade actual mostra a existência de uma mudança de paradigma no universo da tecnologia, em que as pessoas que têm competência em domínios “não-informáticos” serão fundamentais para criar produtos e serviços tecnológicos. Mas de que forma evoluiu o mercado para chegarmos a esta situação? Para Hugo Miguel Ribeiro, há várias explicações para termos chegado a este momento. «Recentemente, com a imposição digital impulsionada pela pandemia, tivemos um aumento significativo na procura por soluções que resolvem problemas específicos. Pela falta de mão-de-obra técnica e produtos incapazes de preencher as necessidades, as organizações, sejam elas do sector público ou empresarial, começaram a adoptar soluções de desenvolvimento de software low-code e/ou assistidas por inteligência artificial», faz notar.

Continua: «Dada a natureza destas ferramentas, pessoas com talento e disponibilidade para aprender conseguem desenvolver as suas próprias aplicações informáticas. Assim, as organizações colocam nas mãos dos especialistas das mais diversas áreas, que conhecem os problemas dos stakeholders melhor que ninguém, a possibilidade de criarem as suas próprias soluções para uso interno ou para entrarem no mercado.»

Hugo Miguel Ribeiro não tem dúvidas de que esta nova realidade vai ao encontro das necessidades actuais do mercado, o qual procura soluções que resolvam problemas. «Ao juntarmos à equação pessoas que são especialistas no domínio de actuação da tecnologia, anulamos tanto quanto possível este desalinhamento, e o que por vezes chamamos o jogo do “telefone estragado” – os especialistas em tecnologia não percebem do que as áreas de negócio precisam, e as áreas de negócio não sabem o que é possível ou não ser desenvolvido pelos técnicos.»

Neste novo paradigma, a captação do talento é uma área com uma alteração significativa, uma vez que, se até aqui o foco no desenvolvimento de software eram os perfis tecnológicos e a captação dos melhores, vamos assistir a um equilíbrio da balança entre estes perfis e os especialistas no domínio do negócio.

 

Os novos profissionais de TI
Uma investigação recente da consultora global Gartner indica que – já em 2024 – 80% das soluções serão desenvolvidas por profissionais fora dos departamentos de Tecnologias de Informação (TI). Tal vai certamente implicar uma preparação por parte das empresas, algo que o VP People Operations IS da Quidgest partilha já ter vindo a assistir. «Temos visto cada vez mais empresas a adoptarem plataformas que permitem a criação de soluções, sem a necessidade de elevados conhecimentos técnicos, pelo que acredito que esta tendência se venha a expandir ainda mais no decorrer do próximo ano.»

Olhando para a Quidgest, verificamos que nas áreas de produção de software, cerca de 60% dos colaboradores são de perfis sem background em TI, e se observarmos exclusivamente o departamento de Investigação e Desenvolvimento (I&D), que está no centro do desenvolvimento tecnológico da plataforma GENIO (acrónimo que junta as palavras junta as palavras Generate, Input e Output) da Quidgest, e onde seria expectável que a totalidade dos perfis fossem de TI, esta percentagem é de 75%. «Mesmo num centro de I&D, necessitamos de diversidade nos perfis que representem os utilizadores da plataforma, que, como vimos, são maioritariamente sem background em IT», reitera Hugo Miguel Ribeiro.

Mas se estes profissionais não são de TI, de que áreas são? A resposta é simples: «Das mais diversas áreas em que actuamos», responde o responsável, partilhando diferentes exemplos: «Temos pessoas especialistas na Banca, em Gestão Documental, em Protecção de Dados, em Recursos Humanos, Saúde, entre muitas outras, que desenvolvem soluções para as áreas onde o seu conhecimento é mais aprofundado.»

Hugo Miguel Ribeiro acredita que a realidade vivida na Quidgest pode, de alguma forma, incentivar os clientes a adoptar uma prática semelhante. «Parte do nosso objectivo é dotar os profissionais de domínios extra-tecnologia de conhecimentos em desenvolvimento de tecnologia, através da Quidgest Academy. E isto também se aplica a empresas, uma vez que temos um curso, o G_Corporate, que é especialmente desenvolvido para as empresas que queiram adoptar as soluções da Quidgest e adicionar funcionalidades ou desenvolver aplicações de raiz.»

 

Extreme-low code, low-code e inteligência artificial
O GENIO é a plataforma de desenvolvimento de software extreme-low code da Quidgest, que assenta em modelação e inteligência artificial. «Em oposição às plataformas comuns de low-code ou no-code, o GENIO distingue-se por se basear em padrões e pela sua capacidade de transformar o conjunto de regras de negócio num software de forma extremamente rápida e eficiente», explica o responsável, acrescentando que, «através desta plataforma, é possível criar soluções até 100 vezes mais depressa do que um developer que escreva código manualmente e cerca de oito vezes mais depressa que as mais conhecidas plataformas de low-code – daí a designação extreme low-code».

Já o low-code é uma abordagem ao desenvolvimento de software que permite o desenvolvimento rápido e com muito pouco código manual por trás. «É um método interessante porque permite às pessoas sem grandes conhecimentos em desenvolvimento de tecnologia criar pequenas soluções», esclarece. «No entanto, e em oposição ao extreme low-code do GENIO, não é o método ideal para criar soluções de grande complexidade, como o caso de sistemas integrados de gestão empresarial.»

Nesta equação falta entrar a inteligência artificial, que, como refere Hugo Miguel Ribeiro, aporta diversos benefícios. «Do lado das empresas, é um apoio vital na tomada de decisão, na criação ou optimização de melhores produtos e serviços, na manutenção preditiva de equipamentos ou até mesmo na gestão de Recursos Humanos, sendo que, neste último caso, as empresas têm utilizado inteligência artificial para optimizar a gestão do talento – aperfeiçoar a atracção e retenção de talento – e a gestão da performance dos seus colaboradores.» Já do lado dos profissionais, a mais-valia crucial é a automação de tarefas repetitivas. «Por consequência, libertam-se deste tipo de tarefas e utilizam o seu tempo a criar valor real ao negócio, o que se pode traduzir em mais tempo para pensamento estratégico, em melhor apoio aos clientes ou criatividade.»

Tendo tudo isto em consideração, como é que esta nova realidade é estimulada pelo avanço da plataforma de low-code e da inteligência artificial, perguntamos. Hugo Miguel Ribeiro responde: «Por um lado, o extreme low-code do GENIO torna o desenvolvimento mais mundano – os utilizadores precisam de conhecimento em alguns conceitos-chave, mas não é necessário saberem programar manualmente. Por outro, a inteligência artificial apoia-se na criação de padrões que facilitam, ainda mais, o processo de desenvolvimento de soluções sem qualquer erro. Logo, em conjunto, são um excelente driver para levar a criação de tecnologia a todas as pessoas que sejam engenhosas o suficiente para resolverem um problema de mercado que ainda não foi colmatado.»

 

É o princípio do fim da profissão de programador?
Perante a provocação se, assim, os programadores podem deixar de ser necessários, Hugo Miguel Ribeiro é peremptório: «Os programadores nunca vão deixar de existir. Eles são fundamentais para a área de engenharia de software. O próprio GENIO, por exemplo, foi criado e é constantemente melhorado por programadores. O seu conhecimento vai ser sempre necessário para soluções mais complexas, como é o caso das soluções que automatizam.»

Não obstante, e se as pessoas de fora de TI que não têm qualquer curiosidade na criação de soluções informáticas não têm de mudar a sua forma de operar, quem tenha interesse em desenvolver software pode – e deve – inscrever-se em academias como a da Quidgest, «sendo certo que estes conhecimentos vão trazer maior valor aos empregadores ou até mesmo criar novos negócios».

 

Este artigo foi publicado na edição de Agosto (nº.128) da Human Resources nas bancas.

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