Uma radiografia ao mercado de trabalho em Portugal. E o olhar das empresas e de três gerações de profissionais

A Randstad lançou uma nova ferramenta – o Randstad Research – que regularmente irá fornecer destaques sobre o mercado de trabalho em Portugal. O primeiro estudo faz uma caracterização da população empregada (e desempregada) e avança dados sobre qualificação e remuneração.

 

Por Tânia Reis

 

Disponibilizar às empresas ferramentas e informação, credível e actualizada, sobre o mercado de trabalho e tendências nacionais e internacionais é o principal objectivo do Randstad Research, uma área de estudos e insights que, além do estudo trimestral, todos os meses partilhará informação relevante para líderes e gestores de Pessoas. A estreia aconteceu com a apresentação de 50 destaques, resultante de um balanço dos últimos três meses de 2022. Os dados têm como ponto de partida a transformação do mercado de trabalho português, a evolução dos seus modelos, a aposta na inovação e a tomada de decisão.

Num panorama geral que contabiliza uma população activa de 5,25 milhões de pessoas, resultado de um aumento em 10,7 mil cidadãos durante o último trimestre do ano transacto, verifica-se uma mudança na tendência de crescimento dos trimestres anteriores, com uma diminuição do emprego em 26,2 mil pessoas, situando-se o número de profissionais nos 4,9 milhões. Desses, 4,18 milhões são profissionais por conta de outrem, 82% dos quais com contrato sem termo. Já os restantes, 740 mil, trabalham por conta própria. Também o emprego nas administrações públicas teve um aumento de 1,2%, totalizando, no final de 2022, 741,2 mil cidadãos.

Os dados sobre o número de desempregados são igualmente mais elevados do que no ano anterior (3,7%). Só no último trimestre de 2022, o número de desempregados subiu para 342 700 pessoas, correspondendo a uma taxa de 6,5%.

Analisando em detalhe os dados do emprego, verifica-se que, no total da população empregada, 50,3% são homens e 49,7% mulheres, cifrando-se a diferença em 30,6 mil. Dos 4,9 milhões de cidadãos empregados, as maiores percentagens cabem às faixas etárias de 45-54 anos (27,4%) e 35-44 anos (24,1%). Os profissionais entre os 55-64 e 25-34 anos cifram-se nos 19,3%, seguidos pelos de 25-34 anos com 18,7%, ocupando as menores fatias os mais jovens (16-24 anos) com 5,9%, e os mais seniores (65-89 anos) com 4,4%.

No que ao nível de estudos diz respeito, constata-se que a maioria possui ensino superior (33%) e estudos secundários e pós-secundários (31,1%), totalizado 3,14 milhões de cidadãos. Com ensino básico, 18,1% da população empregada tem o 3.º ciclo, 9,7% o 2.º ciclo, e 7,6% possuem apenas o primeiro. Ainda que a fatia de população empregada sem qualquer estudo seja pouco representativa (0,5%), corresponde a 26,2 mil pessoas (ver figura 1).

 

Onde está a maioria da população empregada?
Do total de cidadãos empregados, 1,35 milhões têm uma antiguidade superior a 20 anos, equivalendo a 27,5% do total, a proporção mais baixa dos últimos dois anos (ver figura 2). Já cerca de um 1,2 milhões de profissionais estão nas actuais empresas entre um a quatro anos (23%), e 821 mil permanece entre cinco a nove anos (17%), dividindo-se os restantes 11% por 10-14 anos; 9% por 15-19 anos. Curiosamente, no último trimestre de 2022, quase 650 mil profissionais não chegaram a completar um ano na empresa (9% até seis meses, e 4% entre sete e 11 meses).

Por área geográfica, as conclusões indicam que a região com maior taxa de população empregada é a do Norte, com 35%, seguida da Área Metropolitana de Lisboa (AML) com 27,1% e da região Centro, com 22,2%. As geografias com menos população empregada encontram-se nas regiões autónomas dos Açores e Madeira, com 2,4 e 2,5%, respectivamente. As regiões do Algarve e Alentejo contabilizam quase 534 mil cidadãos empregados (4,3% e 6,6%, respectivamente).

Segundo a análise por profissão, este primeiro estudo do Randstad Research revela que 1,12 milhões de profissionais são “especialistas das actividades intelectuais e científicas”, o maior grupo profissional com 22,7% do total de empregados em Portugal. As seguintes categorias mais relevantes são ocupadas por trabalhadores “dos serviços pessoais, de protecção e segurança, e vendedores” (901,8 mil), “qualificados da indústria, construção e artífices” (625,7 mil) e “operadores de instalações e máquinas e trabalhadores da montagem” (408,2 mil). No final da tabela encontram-se as categorias dos sectores da agricultura, pesca e florestas com 103,3 mil trabalhadores, e 21,5 mil profissionais nas Forças Armadas.

Já por actividade económica, os dados apontam para a concentração de 17,2% dos empregos na indústria transformadora, sendo o comércio a segunda actividade com mais profissionais (14,5%). Nos serviços, os sectores da educação e da saúde são os que empregam 18,8% do total de trabalhadores.

No âmbito do emprego público, registou-se um aumento de 1,2% no último trimestre, correspondente a 9435 profissionais. Do total de 742 760 pessoas, 75% do emprego das administrações públicas encontra-se na administração central, localizando-se 92,4% no Continente. Quando analisado por grupos, concluiu-se que 22,9% pertencem à categoria de assistente operacional/ operário/auxiliar, e 36,4% actuam nas áreas da saúde e da educação.

No que toca ao teletrabalho, o número de profissionais nesse regime diminuiu um pouco por todo o País (121,2 mil), entre o terceiro e o quarto trimestre de 2022, fixando-se em 880 mil (17,9% do total). Apenas Lisboa se mantinha acima da média nacional (14,4%), com 28,9% dos empregados em teletrabalho, seguida das regiões Norte e Centro, ambas com 14,4%.

O estudo conclui ainda que 30,5% dos profissionais portugueses praticavam o modelo híbrido, tendo apenas 15,9% trabalhado em casa pontualmente. Os dados salientam igualmente que o teletrabalho (ver figura 3) foi mais frequente em profissionais com alta qualificação (40,1%), nas idades 25-34 anos (18,3%), 35-44 anos (19,3) e 45 e mais anos (18,1%), abrangendo ligeiramente mais o género feminino (18,7%) do que o masculino (17,3%).

 

Leia todas as conclusões do estudo na edição de Março (nº. 147) da Human Resources, nas bancas. 

 

EVENTO
A apresentação oficial do Randstad Research aconteceu no passado dia 28 de Fevereiro, no Colectivo 284, em Lisboa. Contou com a participação de vários especialistas, que se dividiram por dois painéis de debate: um sobre o olhar das empresas data-driven, outro com o olhar de três gerações diferentes sobre o que valorizam os profissionais.

 

Por Tânia Reis | Fotos Nuno Carrancho

 

O evento teve início com a intervenção de Isabel Roseiro, directora de Marketing e Comunicação da Randstad Portugal, que deu a conhecer esta nova área que, através de dados relevantes, com fontes de informação adicionais e actualizações trimestrais, visa guiar e apoiar as empresas, gestores e lideranças na tomada de decisão das empresas, num mercado em constante evolução.

«Num cenário actual, em que a taxa de actividade se cifra nos 60,3% e a taxa de emprego atinge os 50,4%, verificamos valores historicamente altos», salientou a responsável. Adicionalmente, a taxa de desemprego é de 6,5%, o que corresponde a cerca de 340 mil desempregados em Portugal, valores que corroboram a permanência de um desafio transversal às diferentes empresas e sectores – a escassez de pessoas para trabalhar – e realçam a importância de perceber o que os profissionais mais valorizam.

Olhando com maior detalhe para indicadores como género, localização e formação, obtemos informação que permite começar a pintar o retrato do desemprego em Portugal, porém Isabel Roseiro desafiou os presentes a ir mais além na análise, considerando os dados referentes ao reskilling, ao trabalho remoto ou à flexibilidade horária, matérias amplamente valorizadas actualmente. Ou seja, «se queremos atrair profissionais, temos de formá- -los, entender o que valorizam e ir ao encontro das suas necessidades». A directora de Marketing e Comunicação abordou ainda o tema da discriminação, referindo a de género e a de idade, dois grupos que as organizações nem sempre consideram, mas nos quais devem apostar.

Em jeito de conclusão, partilhou que as empresas que tomam decisões baseadas em dados, além de mais inovadoras, têm melhor performance financeira em cerca de 20% superior à média.

 

Dados, uma pedra basilar na tomada de decisões
Seguiram-se dois painéis de debate, ambos moderados pelo jornalista João Moleira. O primeiro, “Empresas data driven – o olhar das organizações”, juntou à conversa Nuno Troni, director de Professionals da Randstad, Patrícia Durães, head of Talent Management dos CTT e Nuno Ribeiro Ferreira, head of People, Culture, Environment and Safety Management da Floene. E os três concordaram: os dados são fundamentais e aportam inúmeras vantagens às empresas.

Aludindo a uma situação na Floene relacionada com um processo de contratação, Nuno Ribeiro Ferreira relatou que grande parte das organizações desconhecem os talentos e competências que têm “em casa”. Levar a cabo o mapeamento das pessoas e das suas competências traz grandes vantagens às empresas, evitando assim ir procurar num já escasso mercado.

Por sua vez, Patrícia Durães realçou o facto de, muitas vezes, os dados não serem completos nem fiáveis, acrescentando que, hoje, a informação é crítica para tomar decisões, também numa óptica de perceber as tendências de mercado.

Já Nuno Troni defendeu que são os dados que permitem facilitar processos e apresentar aos clientes informações sólidas e concretas para uma tomada de decisões fundamentada, facilitando o benchmark do mercado e mesmo em relação aos competidores. Mais do que o acesso a dados, o director de Professionals da Randstad alertou para o facto de, depois, ser preciso saber trabalhá-los e traduzi-los em algo que seja valorizado pelos recrutadores e pelas empresas. E, a seu ver, este vai ser claramente o grande desafio.

Como alcançar este sentido “data driven”? Para a responsável dos CTT, a resposta é clara. As empresas têm de ter dados fiáveis, cruzá-los e trabalhá-los, evitando os «silos que frequentemente existem nas empresas». O head of People, Culture, Environment and Safety Management da Floene acrescentou a importância de «fazer perguntas» para justificar esses dados. Ainda que as grandes empresas já estejam a seguir esse caminho, Nuno Troni salientou que as pequenas e médias empresas – o grosso do tecido empresarial em Portugal – «não sentem sequer essa necessidade e nem têm esse mindset», por isso é provável que venham a ter algumas dificuldades no futuro.

Para contornar os desafios na Gestão de Pessoas, e reconhecendo que qualquer processo de transformação cultural é moroso, o director da Randstad Professionals deixou dois conselhos: é necessário começar a «trabalhar mais por projectos com equipas multidisciplinares» e mudar a «mentalidade do é “proibido errar”». Só assim será possível aprender e corrigir rapidamente. Ainda que com alguma resistência inicial, Patrícia Durães revelou que os CTT aceleraram esse processo de transformação cultural e, nos actuais processos de contratação, já são pedidos dados fundamentados para a tomada de decisão. Já num sector como o da transição energética, Nuno Ribeiro Ferreira admitiu que gerir os novos perfis necessários «sem dados é impossível». São eles que aportam informação acrescentando valor à organização e ao próprio trabalho dos profissionais. «O truque é perceberem isso», concluiu.

 

Leia o artigo na íntegra na edição de Março (nº. 147) da Human Resources, nas bancas. 

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