Ana Porfírio, Jaba Recordati: Pessoas em estado líquido

Os gestores de Pessoas têm o desafio de promover a transição do “sólido” para o “líquido” nas suas políticas e práticas de gestão, porque o líquido chega a lugares onde o sólido não chega, capacitando-nos para a gestão da mudança e para a gestão do desconhecido.

 

Por Ana Porfírio, directora de Recursos Humanos da Jaba Recordati

 

O sociólogo Zygmunt Bauman introduziu o conceito de “modernidade líquida” no final do século XX para descrever a instabilidade e a incerteza patente numa sociedade caracterizada pela mudança constante e a forma como nos afecta a todos enquanto seres sociais.

Esta expressão, “líquida”, é utilizada de forma metafórica para ilustrar a mudança das instituições, estruturas sociais e outras, de um posicionamento estável ou “sólido” para um estado fluído, ou “líquido”, sujeito a mudanças rápidas e constantes.

No que à Gestão de Pessoas diz respeito, entendo que nos encontramos perante a necessidade desta liquidificação.

Quando pensamos nos efeitos dos acontecimentos dos últimos anos e do presente na forma como consumimos, estamos em sociedade, trabalhamos e gerimos, verificamos enormes alterações, e acredito que continuaremos a mudar à medida que a nossa envolvente também se altera. O mundo globalizado em plena interconexão, onde uma mudança numa determinada geografia impacta rapidamente todo o globo, entrou em “tolerância zero” para com pessoas e organizações cristalizadas ou “sólidas”. A metáfora do “Efeito Borboleta” nunca foi tão real e de impacto tão rápido e transversal como hoje.

Por todos estes motivos, as organizações necessitam de arquitecturas e estruturas cada vez mais “líquidas”, assim como uma força de trabalho também ela “líquida”, onde a capacidade de cada pessoa e das organizações carece de adaptações rápidas às mudanças, sejam elas de contexto, tecnológicas, de mercado ou novas capacidades.

A emergência de “Liquid Competences” é fundamental, uma vez que estas permitem que as pessoas e organizações naveguem e tenham sucesso nestes ambientes dinâmicos e incertos.

Num mundo em rápida mudança, a capacidade de aprender, desaprender e reaprender torna-se crucial. Pessoas e organizações necessitam de competências que sejam adaptáveis, que possam ser facilmente transferíveis e aplicáveis a diferentes contextos.

O “Liquid Learning”, outro conceito emergente e complementar às “Liquid Competences”, aponta para abordagens mais flexíveis e adaptáveis à aprendizagem e formação, que deve ser entendida como necessária ao longo de toda a vida de trabalho. Isto implica a utilização de diferentes formas de transferência de conhecimento, tecnologias, meios e metodologias, o que permitirá uma aprendizagem mais personalizada e fluída.

Enquanto gestores de Pessoas, temos o desafio de promover esta transição do “sólido” para o “líquido” nas nossas práticas de gestão, políticas, procedimentos e planos, e aí permanecer, porque o líquido chega a lugares onde o sólido não chega, consegue influenciar e impactar os outros, as equipas, a organização, o negócio, o mercado e até o contexto de formas que o sólido não consegue. Acima de tudo, capacita-nos para a gestão da mudança e para a gestão do desconhecido que acredito ser cada vez mais o nosso dia-a-dia.

 

Este artigo foi publicado na edição de Dezembro (nº. 156) da Human Resources, nas bancas.

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