Barómetro. Inteligência Artificial na Gestão de Pessoas: que impacto?

Para os especialistas do Barómetro Human Resources, não há dúvidas. Se actualmente o impacto da inteligência artificial na Gestão de Pessoas ainda é considerado sobretudo moderado, daqui a cinco anos será muito significativo. Poderá substituir funções de RH? E em que áreas vai ter maior influência? As respostas são inequívocas.

 

Por Ana Leonor Martins

 

Há anos que a transformação digital está na ordem do dia. Cada vez mais acelerada, atingiu um novo patamar com a inteligência artificial (IA), sobretudo a generativa (um tipo de tecnologia de IA com capacidade de aprender padrões complexos de comportamento a partir de uma base de dados, podendo produzir vários tipos de conteúdo, incluindo texto, imagens e outros, em resposta a solicitações em linguagem comum). E o impacto faz-se sentir transversalmente na sociedade, a nível individual e colectivo, na sociedade e nas empresas. A Gestão de Pessoas não é excepção.

É este o principal foco da 48.ª edição do Barómetro Human Resources. Do impacto da IA na Gestão de Pessoas – agora e a médio prazo –, que funções podem ser mais impactadas e em que áreas pode ser mais útil, até à relevância que o factor humano vai assumir neste contexto foram alguns dos temas sobre os quais o painel de especialistas foi chamado a reflectir. Tal como as competências mais relevantes e a humanização da experiência num contexto cada vez mais digital.

Noutro âmbito, e que vai ao encontro do tema de capa da presente edição de Agosto, contemplou-se ainda neste Barómetro a temática da equidade salarial entre géneros e da aplicação da directiva europeia relativa à transparência salarial e à garantia de que é praticado salário igual por trabalho de igual valor. Fechou-se o grupo de 10 questões com um assunto ligado a uma recente alteração à lei laboral, que afecta a utilização do trabalho temporário por parte das empresas. Os especialistas responderam, e é a análise aos resultados deste XLVIII Barómetro Human Resources que apresentamos de seguida.

 

A IA vai impactar a Gestão de Pessoas. E muito
Os resultados são inequívocos. À pergunta sobre se a inteligência artificial está a impactar a Gestão de Pessoas, só 8% consideram que não. Dos 92% que afirmam que sim, a maioria (40%) acreditam ter um impacto moderado, enquanto 22% dizem ser significativo, e só 2% afirmam que já é muito significativo. Mas quando se coloca o horizonte temporal em 2028, as respostas mudam consideravelmente. Não só não há ninguém que ache que a IA não vai impactar a Gestão de Pessoas, como também não há um único inquirido que perspective que esse impacto seja ligeiro. A mudança no grau de impacto é igualmente evidente, com quase metade dos especialistas (47%, mais 45 pontos percentuais) a não ter dúvidas de que, daqui a cinco anos, o impacto da IA na Gestão de Pessoas será muito significativo, e 35% afirmam que será significativo (num total acumulado de 82%). Já a percentagem dos inquiridos que confia que será um impacto moderado desce para 18% (menos 22 p.p.).

A tendência continua evidente quando a pergunta muda para se é expectável que as funções de Gestão de Pessoas sejam substituídas pela IA. Mais uma vez, surgem 92% a afirmarem que sim, no entanto com a maioria (60%) a acreditar que será só numa minoria de funções. Enquanto 12% dizem que será a maioria, só 5% afirmam que uma maioria de funções de RH será substituída pela inteligência artificial. E ninguém acredita que sejam todas.

Especificando, sobre em que áreas de Gestão de Pessoas a IA poderá ser mais eficaz (podendo os inquiridos escolher até duas), há uma que se destaca claramente: o Recrutamento (75%). Segue-se, no top três das áreas que mais poderão beneficiar desta tecnologia, a de Formação e Desenvolvimento (48%) e a de Compensação e Benefícios (22%). De notar que nenhum especialista referiu as áreas de Diversidade e Inclusão, nem do Bem-estar. E só 2% referiram a Liderança. Mas nenhum considera que a IA não será eficaz em nenhuma área, e 5% acham mesmo que será em todas.

 

Hard skills, soft skills ou human skills?
Não obstante as oportunidades que a esmagadora maioria confia que a IA trará, também há riscos. Uma questão que se tem levantado – mas que se tem repetido em todas as revoluções industriais – tem a ver com o emprego, com as máquinas poderem substituir as pessoas em cada vez mais, e progressivamente mais complexas, tarefas. Quando questionados sobre se, com a evolução tecnológica e a cada vez maior precisão e sofisticação da IA, a relevância do factor humano vai ser posta em causa, num horizonte até cinco anos, neste tema, as opiniões surgem mais divididas. A maioria (64%) afirma que sim, mas 25% acreditam que será só numa minoria de sectores e funções, com 15% a acrescentarem que será numa minoria pouco expressiva. Mas também 15% antevêem que a relevância das pessoas será posta em causa numa minoria de funções, e 7% dizem que será numa maioria significativa. Só 2% afirmam que todos os sectores e funções serão confrontados com essa realidade. Entre os que não acreditam que a relevância do factor humano seja posta em causa (36%), 18% afirmam que nunca será e outros 18% têm menos certezas, mas confiam que não será, pelo menos a curto prazo.

 

Fique a conhecer todos os resultados do XLVIII Barómetro Human Resources na edição de Agosto (nº.152) da Human Resources, nas bancas (se preferir comprar online, tem disponível a versão em papel ou a versão digital).

E tem também o comentário dos especialistas:

– Carla Marques, CEO da Intelcia Portugal

– Eduardo Caria, director Pessoas e Organização do Grupo Ageas Portugal

– Maria Kol, HR Country lead da Cisco

– Paulo Bastos, Headquarters Human Resources manager do Grupo Simoldes

– Rita Távora, Country Talent Development manager da IKEA

– Isabel Borgas, directora de Pessoas e Organização da NOS

– Rita Baptista, directora de Recursos Humanos & Organização da Bene Farmaceutica

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