COVID-19. Empresas de maior crescimento são mais prejudicadas na pandemia

As restrições trazidas pela pandemia produziram, pelo menos num primeiro momento, um impacto maior naquelas que são as empresas de maior crescimento, e que, por isso, têm o potencial de determinar efeitos mais negativos na produtividade nacional. O efeito foi transversal aos vários sectores de actividade, com perto de metade das empresas de alto crescimento a sofrerem as perdas mais acentuadas, segundo um estudo do Banco de Portugal (BdP) divulgado pelo Dinheiro Vivo.

 

De acordo com a publicação, os dados analisam as quebras reportadas pelas empresas em inquéritos conduzidos de Abril a Junho, cruzadas com a história recente de crescimento das empresas, entre os anos de 2016 e 2018, para um universo de sete mil negócios. A análise permite sondar como o efeito da pandemia nas empresas se traduzirá no tecido empresarial e no PIB.

«Será que a pandemia teve um impacto diferenciado nas empresas de alto crescimento de uma forma que possivelmente prejudicará o crescimento e a realocação de recursos, ou será que está a reforçá-los?», questiona o estudo publicado no último Boletim Económico da instituição. Ou seja, trata de saber se o país corre maior risco de ver a crise arrastar consigo os negócios mais fortes ou vulneráveis.

O Dinheiro Vivo revela que as conclusões trazem boas e más notícias. Os mais fortes são à partida os que sofrem mais, mas tendem a recuperar melhor passadas as restrições à actividade.

Segundo a análise, em média, as empresas mais dinâmicas da economia tiveram uma propensão maior em 3,4 pontos percentuais do que as restantes para sofrerem perdas durante o estado de emergência de Abril; além disso, os negócios de alto crescimento também tiveram, em maior proporção, as perdas mais acentuadas. Quase metade sofreu perdas iguais ou superiores a 50%, e teve igualmente a expressão mais reduzida de negócios sem mudanças na facturação em Abril. Foram apenas 12%, contra 15% entre as empresas de menor crescimento, que resistiram melhor, por comparação.

A publicação avança que tendência é transversal aos vários sectores, mas «o choque para empresas de elevado crescimento é relativamente mais alto nos sectores da indústria transformadora, construção, alojamento e restauração, informação e comunicação, actividades imobiliárias e actividades de consultoria, científicas e técnicas», aponta o estudo.

Por outro lado, o BdP analisa ainda os efeitos nas empresas de alto crescimento por idade e nível de endividamento – dois indicadores potenciais de inovação e dinamismo -, com o diagnóstico a confirmar-se no cruzamento desses factores: foram as empresas de maior crescimento e mais jovens (52% destas) e com maior crescimento conjugado com maior alavancagem (54%) também aquelas onde as maiores perdas de actividade se sentiram.

Mas, passado o confinamento, a partir de Maio, estas foram as empresas que mais recuperaram relativamente ao ponto em que afundaram. Em Junho e Julho, 40% das empresas com os crescimentos mais elevados não reportavam quebras de faturação (face aos 12% de Abril), com a percentagem a ficar em 37% nas empresas com os mais baixos crescimentos (15% em Abril). Ainda assim, as empresas de alto crescimento que registavam quebras no início do verão mantinham maior peso entre as quebras mais elevadas.

O estudo reflete ainda o que foi o uso dos apoios à economia em termos comparados, distinguindo uma vez mais as empresas com históricos de crescimentos mais altos e mais baixos. Na análise, foram os negócios de alto crescimento que mais se socorreram das linhas de crédito garantidas pelo Estado e das moratórias bancárias, que suspendem os pagamentos de capital e juros até setembro de 2021. Tiveram também maior tendência de recurso ao lay-off simplificado, não se verificando, por outro lado, maior recurso ao adiamento de obrigações fiscais.

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