O urgente, o importante e o acessório

Por Ricardo Florêncio

Começo esta nota com a mesma frase com que acabei o editorial de Abril: «Todo o dia que adiemos a tomada dessas decisões, é um dia perdido, e vamos deixando avolumar os problemas.»
Temos uma tendência para debatermos o que é acessório e não o que é urgente e importante. Será porque é mais fácil? Será por outro tipo de razões? Sejam as que forem, é um erro. E é um erro que nos vai sair muito caro. Temos mesmo de tomar decisões sobre os temas urgentes e importantes. Elenco desde já quatro:
Escassez de pessoas qualificadas e com as competências necessárias: por muitos números que se apresentem, não há volta a dar – faltam mesmo pessoas de que necessitamos. E a solução é formar ainda mais, manter os bons que cá se formam (mas que hoje em dia vão para fora) ou ir procurá-las noutros países. Mas aqui entra o segundo ponto.
Tributação sobre o trabalho: as pessoas em Portugal ganham mal? Em média, sim. Mas o problema maior é que recebem mesmo pouco. A tributação sobre o trabalho é muito alta em Portugal, o que dificulta atrair, manter e motivar os colaboradores. Veja-se o exemplo de alguém (solteiro, sem filhos) que aufira o salário médio actual, ou seja 1 335 euros brutos por mês. Logo à partida, e sem subsídios de férias nem o 13.º mês, representa um custo mensal para a empresa de 1 652 euros, atendendo ao valor a pagar à Segurança Social. E se considerarmos os descontos para efeitos de IRS e Segurança Social por parte do colaborador, este recebe o valor líquido de 987 euros. Ou seja, de um valor total para a empresa de 1 652 euros para a empresa, o colaborador recebe 987 euros – uma diferença de 665 euros, É claramente uma matéria que tem de ser revista.
Tal como também tem de ser revista a legislação laboral. Já deixou de fazer sentido transformar a lei do trabalho num género de luta de classes; num instrumento de luta entre empresas e colaboradores. Os tempos são outros, os modelos de trabalho são outros, as relações entre empresas e colaboradores são outras, inclusive, os interesses e exigências dos colaboradores são outros. Tudo mudou. E a legislação laboral tem de seguir essas mudanças.
Por fim, e não por último, todas as questões relacionadas com os temas da saúde. E não só da saúde mental, mas da saúde como um todo. Mas este tema, deixarei para uma futura nota.

Editorial publicado na revista Human Resources nº 149, de Maio de 2023