As lideranças estão exaustas!

Até aqui, nada de novo! Os últimos tempos têm sido muito intensos no que às exigências das lideranças nas organizações respeita. Os líderes tiveram o maior embate de tudo o que são efeitos directos e impactos colaterais desta pandemia.

 

Por Pedro Ramos, CEO da Keeptalent Portugal e presidente da APG

 

Senão vejamos… As lideranças tiveram de envolver, cuidar e ensinar novas formas de estar nos negócios – muitas vezes não facilmente compreendidos – e também lhes eram dirigidas muitas perguntas, para as quais nem sempre havia reais respostas.

Todos os holofotes estiveram sobre as várias lideranças que, para o bem ou para o mal, tiveram de ir (re)inventando processos e, até os negócios, tiveram de ir ensinando novos modos de fazer e sobretudo de “vender” os produtos e serviços de forma cada vez mais diferenciada promovendo resultados, ao mesmo tempo que uma quantidade (maior ou menor) de colaboradores ia “reclamando” por mais trabalho à distância ou por voltar à empresa…

Aos líderes, como sabemos, é sempre exigido que motivem os seus colaboradores, certo? Mas, na verdade, nunca ninguém verdadeiramente conseguiu responder à questão: “E quem motiva os líderes?”

Da canseira do pré-pandemia VUCA (mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo) ao tremendo cansaço do novo BANI (frágil, ansioso, não linear e incompreensível) “venha o diabo e escolha”! O problema é que as lideranças passaram de uma fase para a outra, sem manual de instruções, sem qualquer formação inicial e, muito menos, manual de acolhimento…

Os líderes são, acredito, uns heróis! Super-heróis até, com capa (diria, couraça!) e super poderes! Tais como terem de voar por todo o lado ao mesmo tempo – esta “coisa” de agora serem líderes digitais obriga-os a andar de casa em casa dos colaboradores usando zooms, meets ou teams mais ou menos rápidos…

Que exaustão ser líder actualmente! É que se não faltassem condições bastantes que todos os dias aumentam os níveis de trabalho e complexidade das lideranças, ainda agora se inventaram formas mais ágeis de trabalhar e proliferam as equipas de projecto e de alto desempenho onde, às vezes, os líderes passam num ápice a liderados… sendo que (ainda mais difícil…) casos há em que os líderes são simultaneamente líderes e liderados… Mundo estranho este para ser líder…

Estamos a falar de uma espécie de travessia das lideranças no deserto (estarei eu a ser influenciado por estar a escrever este artigo no Dubai?)… um momento de exaustão num meio de um caminho que não se sabe muito bem onde termina. Caminho intenso, quente, escaldante, onde a única certeza que existe é a tal de não haver certezas e, mesmo que seja apenas mera sensação, a ideia de se ser um “caminheiro solitário” assume especial relevância nesta discussão. Sim, a pandemia veio trazer exaustão, mas também (mais) solidão às lideranças.

É aqui que naturalmente a “teoria do oásis” – o tal que existe certamente mesmo quando não é ainda visível à vista desarmada – pode ajudar na análise deste processo. Não na perspectiva de deixar andar até que apareça de frente de repente uma palmeira, mas na perspectiva da importância de cada liderança ir construindo o seu próprio oásis. O seu próprio lugar fresco, a sua zona de (re)conforto, onde possa descansar um pouco antes de voltar à nova caminhada.

Já houve quem dissesse que os “melhores líderes são aqueles que sabem construir outros líderes”… A este respeito, eu diria que, passar algum peso e responsabilidade aos liderados, aprendendo a delegar verdadeiramente, saber descansar e aliviar pressão, pondo em prática o que já há muito se foi lendo e ouvindo sobre a importância da confiança nas equipas, pode ser o caminho a trilhar, sobretudo, descobrindo as suas forças e fraquezas, dado que chegou a hora de valorizar e ampliar mais as suas forças do que continuar a apostar numa intensa batalha por tentar alavancar as fraquezas.

Os líderes estão exaustos… mas não esgotados!

As lideranças, com as defesas activadas, precisam de ajudar a concretizar sonhos e a perseguir propósitos poderosos… Precisam de (só mais um esforço!) num último fôlego activar as competências em si próprios e nas suas equipas tais como: a compreensão, a generosidade, a compaixão e flexibilidade cognitiva… Diz-se “por aí” que vivemos na Era da Experiência do Colaborador…

Permitam-me, em abono da verdade… e não chegou também o tempo de falarmos de “Experiência de Liderança” acabando de vez com este preconceito de que para ser líder é importante sofrer, percorrer caminhos escaldantes que só ajudam a derreter energias e provocam a tal exaustão?

Os líderes estão exaustos e, para além dos próprios, também os liderados têm culpa nisso! Chegou o tempo de “baixar as guardas”, assumir que cada um tem um papel de extrema importância numa organização, cada um tem as suas fragilidades e as suas forças, e que TODOS são responsáveis pela saúde física e mental de todos numa organização.

Quando foi a última vez que sentiu que estava a ser generoso(a) com a sua liderança? Lembra-se da última vez que reconheceu a sua liderança pelos desafios que foram ultrapassando juntos? Enquanto liderado, como está o (des)equilíbrio da sua “balança” entre as vezes que leva problemas e as que apresenta soluções?

As Lideranças estão exaustas e, já agora, também não são parvas… Pense nisso, caríssimos Líder e Liderado, e ajudem, ajudando-se, a construir o oásis de energia positiva de que verdadeiramente precisam!

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