Sustentabilidade: não é moda, é necessidade!

Há quase meio século que se fala da designada responsabilidade social das empresas. Nos últimos anos, começou a falar-se mais de sustentabilidade e, recentemente, de ESG (Environmental, Social and Governance).

Por Carlos Sezões, Managing partner da Darefy – Leadership & Change Builders

Reconheçamos que, para muitas empresas e gestores, e durante muito tempo, o tema foi apenas algo bonito para “trazer na lapela”, para alardear algumas doses de humanismo, preocupação social, consciência ecológica ou ética nos negócios. E pouco mais. Estabilizemos esta reflexão no termo “sustentabilidade”. Fruto das evoluções socioculturais, organizacionais e tecnológicas, temperadas pela globalização, transparência e comunicação à escala global, a sustentabilidade foi-se vincando como algo incontornável, que deve estar presente no ADN das empresas.

O esforço de sustentabilidade pode definir-se como o compromisso da empresa em contribuir, de forma voluntária, para um impacto positivo, de longo prazo, dos seus negócios no meio envolvente e nos seus vários stakeholders. Com efeito, uma empresa é um sistema aberto em permanente interacção com o seu contexto ambiental. Esta interacção é relevante para o sucesso das organizações, pelo que deverá estar na agenda dos gestores de topo. Fazer negócios não pode ter apenas a maximização do lucro como única meta e a empresa deverá tentar, dentro das suas limitações, contribuir para criar valor acrescentado na comunidade.

Tal deve estar visível na sua missão e nos seus processos de negócio. Hoje, as empresas têm um mindset mais alargado, para prever, planear, avaliar e corrigir os seus impactos no mundo envolvente – pelo que a definição de uma estratégia de sustentabilidade será incontornável. Para ultrapassar uma (redutora) visão filantrópica e mecenática, a empresa deverá (por exemplo através do seu CSO – Chief Sustainability Officer, posição emergente em grandes empresas), definir políticas e iniciativas concretas – e para que não seja apenas um discurso vazio, há que ser consistente e, de forma simples, “walk the talk”. Uma estratégia estruturada, deverá:

  1. Elencar um conjunto de stakeholders alargado e relevante – incluindo, colaboradores, fornecedores, clientes e comunidade envolvente.
  2. Definir estratégias e iniciativas:

a) Para os colaboradores – abarcando a (boa) comunicação de propósito e impacto, as condições de trabalho, remunerações e incentivos, e benefícios que promovam a qualidade de vida e o equilíbrio profissional/ pessoal;

b) Para os fornecedores e clientes – a montante e a jusante na cadeia de valor, as empresas devem focar os aspectos éticos, de conformidade legal e de respeito por princípios basilares (direitos humanos, laborais e ambientais na sua cadeia de parceiros); uma cadeia logística que reduza a pegada de carbono e promova a designada “economia circular” – um modelo que abandone a lógica linear (extracção de recursos, fabrico de produtos, consumo, produção e deposição de resíduos) e preconize a eficiência e redesign de processos produtivos, com uma lógica de reaproveitamento; será também relevante a luta contra a corrupção e na selecção (transparente) de fornecedores.

c) Para a comunidade e ambiente – a preservação do equilíbrio ecológico será mandatório, especialmente se a empresa tem actividades de extracção ou produção industrial; dentro do core business da empresa, poderá gerar apoios à educação, à cultura e à investigação e inovação aplicadas; ainda o apoio à inovação social, com escalabilidade de soluções criativas.

3. Monitorizar, medir a comunicar – através de métricas/ índices de sustentabilidade, criados à medida, com benchmarks por indústria, para demonstrar como a organização estará (ou não) a cumprir os objectivos estratégicos e operacionais definidos nesta matéria.

Será esta atenção à sustentabilidade que irá diferenciar as empresas no futuro próximo. A sua reputação, variável essencial para a sua longevidade, estará directamente dependente do seu sucesso nesta dimensão. Sustentabilidade não é moda, é mesmo necessidade.

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