Clara Celestino (Microsoft Portugal): De um mundo VUCA para um mundo BANI

Clara Celestino, Human Resources Lead da Microsoft Portugal faz notar que «para serem estratégicos, os Recursos Humanos têm de estar ligados ao negócio, a trabalhar lado a lado com os seus pares na empresa». Leia o seu testemunho.

 

«Antes da pandemia, vivíamos no mundo VUCA (acrónimo das palavras inglesas volatitle, uncertain, complex, ambiguous), hoje vivemos num novo contexto e demos as boas vindas ao mundo BANI (brittle, anxious, non linear, incompreehensible). Este mundo requer que cada um tenha um conhecimento mais profundo de si, e às organizações cabe o desafio de as apoiar em termos de upskilling ou reskilling, capacitação, flexibilidade, confiança, bem-estar e saúde mental.

Quando a pandemia surgiu, os gestores de pessoas tiveram um papel importante e estratégico, assegurando que o negócio se mantinha através das pessoas. Tivemos de colocá-las a trabalhar a partir de casa, garantindo que tinham as competências e assegurando que, do ponto de vista de estrutura, tinham as condições para trabalhar.

Os processos de Recursos Humanos, como o recrutamento, onboarding, desempenho e desenvolvimento, foram alterados para fazer face às novas exigências. Os gestores de pessoas que melhor serviram as organizações foram os que, conhecendo bem o negócio, foram ágeis e responderam rapidamente às exigências das empresas.

Se já estávamos a trabalhar os seguintes pontos, com a pandemia tornou-se mais urgente a sua realização:

 

1) Posicionamento estratégico

A tecnologia obriga a que a Gestão de Pessoas seja feita de uma forma completamente diferente. Hoje estamos na Industria 4.0, em que o custo da tecnologia é mais baixo e o seu acesso foi democratizado. Durante a pandemia, em dois meses fizemos uma transformação digital que demoraria dois anos.

Ter um olhar estratégico pressupõe saber o que se passa em termos macro-económicos, nas outras empresas, e nos outros países. Para serem estratégicos, os Recursos Humanos (RH) têm de estar ligados ao negócio da empresa, a trabalhar lado a lado com os seus pares para que a organização seja competiva e sustentável, preparando-a para o futuro. A adopção do modelo híbrido de trabalho reflecte isto mesmo.

 

2) Cultura e Liderança

O sentido de propósito, a missão e os valores são cada vez mais cruciais e sustentam a estratégia da organização, bem como a atracção e retenção de talento. Os RH descentralizaram muita da sua função para os líderes, sendo que estes são os maiores responsáveis pela experiência que o colaborador tem nas empresas, criando momentos que importam. Além do foco nos resultados, precisamos de líderes que criem clareza, que gerem energia e optmismo. Os líderes devem ser role models da cultura organizacional, conhecendo e cuidando das suas pessoas e co-criando caminhos através de metodologias de coaching. As políticas de RH devem alavancar a cultura organizacional e o desenvolvimento dos actuais e futuros líderes das organizações.

 

3) Data driven

É importante passar da análise de dados demográficos para análise de dados relevantes sobre o conhecimento das pessoas e processos RH. Nunca foi tão importante conhecer as nossas pessoas. Não é suficiente as empresas conhecerem bem os seus key talents. Na verdade, esta visão sempre me incomodou. Muitos dos trabalhadores essenciais foram os que garantiram a continuidade do negócio e, muitas vezes, esses são os trabalhadores menos valorizados. Hoje vivemos em comunidades colaborativas de talento, constituídas desde operários até ao presidente.

Em contextos de elevada mudança e de reorganização, é crucial saber as competências de cada pessoa para se entender o desvio existente e planear acções de recrutamento ou mobilidade interna, upskilling ou reskilling.

Hoje, a tecnologia PowerBi ajuda-me a tomar decisões ágeis e rápidas e também a fazer análises preditivas que são fundamentais num mundo de mudança. No futuro será a Inteligência Artifical a sugerir-me decisões.»

 

Este artigo faz parte do tema de capa da edição de Outubro (n.º 118) da Human Resources, nas bancas.

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