Os assuntos incómodos

Ricardo Florêncio 

Existe um conjunto de assuntos que todos acham muito importantes. Contudo a sua discussão, talvez por incapacidade de resolução ou por serem assuntos incómodos, que podem colocar em causa o status quo das organizações e dos seus responsáveis, vai sendo sucessivamente adiada, e assim são comentados em ambientes mais restritos e contidos. Apontemos alguns exemplos.

Para o mercado de trabalho, um indivíduo com mais 50 anos não existe. Em movimentos internos das empresas ainda há mercado. Mas para saídas para o exterior, as portas fecham se totalmente. Faz algum sentido abdicar de todo este potencial, conhecimento e experiência?  Claro que não. Todavia, é isso que acontece.

Muito se fala que a legislação laboral é um grande entrave ao desenvolvimento da economia. Em certos sectores de actividade, concordo que a legislação laboral apresente vários condicionalismos. Porém, generalizar o conceito não me parece acertado. Aliás, o que vai acontecer seguramente, como sempre aconteceu, é a legislação andar atrás do mundo real e não o contrário. Vai haver certamente nova legislação atendendo às novas formas de trabalho, ao job sharing, ao part-time, ao trabalho a distância e ao project job, e até mesmo em relação à robótica já se fala numa nova forma de tributar como mão-de-obra.

Relativamente à Segurança Social, é assunto abordado e debatido, mas soluções… os que estão hoje na casa dos 40 ou 50 olham com apreensão para o que irá acontecer quando chegarem ao tempo da reforma. Os que iniciam agora a sua vida profissional já sabem que nada sobrará… e qual a solução que tem sido posta em prática? Cortes nas pensões! Mas será este o caminho? Claro que não! É evidente que quem trabalhou 40 anos a descontar para a Segurança Social, e viu as suas empresas também contribuir para esse mesmo fundo, está no seu maior direito de exigir o pagamento das suas reformas. O que se pode e deve questionar, é se todos os que estão a receber a reforma contribuíram para terem esses mesmos direitos.

Mas tem de haver outras soluções. Tem de ser encontrado um outro caminho. Estes são apenas três exemplos, mas mais poderiam ser aqui elencados. Pelo nosso lado, iremos aprofundar e espicaçar a discussão, para que possam ser encontradas soluções!

Editorial publicado na edição de Junho de 2017 da revista Human Resources

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