Como ser um trabalhador feliz

Escrevi há dias sobre a felicidade no trabalho, de uma forma evolutiva no que à história diz respeito. Desta vez, quero reflectir sobre o trabalhador feliz e sobre estratégias que poderão ser importantes para que isso mesmo aconteça.

Por Pedro Quaresma, coach e analista DISC

 

Vivemos tempos conturbados a todos os níveis, e não apenas profissionais; vivemos uma pandemia e agora um conflito militar que desafiam a estabilidade emocional de cada um de nós.

É o mesmo que dizer que as nossas emoções estão a ser colocadas à prova, chamando à nossa superfície emocional o poder da resiliência.

Tudo isto interfere na nossa estabilidade, desde logo na nossa felicidade, inclusive no trabalho.

Importa, assim, conduzir o foco e orientarmos aquilo que nos pode fazer sentir melhor, mais fortes e, por isso, mais felizes também. Sim, é verdade… A felicidade depende numa escala muito importante da nossa vontade de ser felizes e aqui, neste caso, sobre o tema que escrevo, ser feliz naquela que é a parte onde investimos a maior parte do nosso tempo: na nossa actividade profissional.

O ser humano tem o mau hábito de atribuir culpa, ao invés de assumir responsabilidades. Tem o mau hábito de empurrar com a barriga aquelas que são as suas responsabilidades, sempre que o resultado não é o esperado.

O ser humano não tem o hábito de medir as suas opções e muito menos os seus efeitos quando estas não são as melhores, por isso, não tem também o hábito de ser feliz no trabalho.

No meu último artigo sobre a felicidade no trabalho (link do artigo: https://hrportugal.sapo.pt/a-felicidade-no-trabalho/ ) falei em determinado momento da visão nórdica do trabalho. Os nórdicos, de uma maneira geral, têm uma visão positiva do trabalho, porque o seu foco é atingir os seus objectivos pessoais e familiares. Quando saem de casa para trabalhar, ao contrário da grande maioria de nós, explicam aos filhos de forma feliz e sorridente que vão construir o seu próprio futuro, bem como o futuro da família. Explicam também que é a sua actividade profissional que faz com que se consiga ter uma vida mais feliz. Ao terem esta atitude, fazem com que as gerações que vão chegando tenham uma cultura de trabalhar de forma feliz, porque o objectivo é a felicidade.

Quando disse entre vírgulas que é ao contrário de nós, disse-o, porque a nossa sociedade ensina precisamente o contrário… Transmitimos aos nossos descendentes a ideia de que o trabalho é um peso, ao invés de uma oportunidade de podermos ser mais felizes.

No foco, reside a nossa felicidade em todos os campos da nossa vida. Não é porque o meu trabalho não me realiza que vou deixar de ser feliz, porque esta é a minha oportunidade de poder construir o que quer que seja. Não é aí que devo colocar o meu foco, mas sim em tudo o que o meu trabalho me dá ou permite ter de positivo; sejam as pessoas que compõem a minha equipa, seja a actividade que desenvolvo, sejam as vantagens da minha actividade ou o meu desempenho. Seja ainda o que posso aprender e o que posso crescer, ou seja, o que posso partilhar e/ou desenvolver. Seja de que forma for, podemos sempre ser felizes no trabalho, se o nosso foco estiver orientado nesse sentido.

Como dizia no início desta minha reflexão, nós temos o mau hábito de, sempre que algo não nos corre como seria suposto, empurrar a responsabilidade do que vai acontecendo para alguém ou algo que nos envolva. Esta é uma parte crucial na felicidade no trabalho.

Quando nos responsabilizamos pelo que nos acontece, estamos automaticamente a assumir que algo não fizemos bem. Não ponderamos bem, não executamos bem, não fizemos a melhor opção, não nos preparamos bem, etc… Ao termos esta atitude, estamos de forma intrínseca a analisar o que correu mal.

Quando não assumimos a responsabilidade, não analisamos coisa nenhuma, sob o pretexto que como não sou o responsável, não tenho que fazer a análise do que aconteceu, logo, não irei crescer com o erro. Ao contrário disso, ao assumirmos, faremos de forma automática essa análise, que nos levará a crescer e a mudar a nossa forma de fazer com que as coisas aconteçam de um modo mais feliz e acima de tudo, mais construtivo.

Esta atitude de assunção da responsabilidade tem também efeitos no contexto social da nossa actividade. Ao assumirmos o que vai acontecendo de negativo, mas também de positivo, estamos a libertar tudo o que nos envolve da culpa, que até agora estávamos a atribuir a tudo e todos à nossa volta.

Quando crescemos estamos a contagiar o nosso contexto, mas o mesmo se passa quando decrescemos.

Então, como que em jeito de resumo, se quero ser feliz na minha actividade profissional, devo ver a minha actividade de uma forma feliz. Não é a forma como vou, mas a abordagem quando lá estou que faz a diferença.

Dizia o meu pai: “O dia tem 24 horas. Oito para trabalhar, oito para nós, e oito para descansar. Das nossas oito, parte delas são na deslocação de, e para o trabalho… vamos aproveitar bem as horas que nos foram confiadas.”

E digo eu: Vamos aproveitar estas horas para sermos felizes e deixarmos de contestar o que nos permite ter o que temos e, de alguma forma, ser o que somos.

Trabalhemos e sejamos felizes!

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