Um eXXemplo

São mulheres advogadas que batalham diariamente num mundo, ainda habitualmente, de homens. Inês Reis e Carla Martins Branco em discurso directo.

HR: Ainda faz sentido comemorar o Dia Internacional da Mulher? Ou ainda faz mais sentido?

Inês Reis: Confesso que não sou a criatura mais feminista e confesso, também, que nem sei exactamente quando é que se comemora o Dia Internacional da Mulher. Mas, provavelmente, até faz sentido pois se nos guiarmos pelas recentes notícias que dizem que 75 % das empresas portuguesas não querem mães trabalhadoras…

Carla Martins Branco: … Se calhar até faz mesmo sentido, não é?

Inês Reis: A discriminação existe, não tenho dúvida, e por isso fará sentido.

HR: Julga que esses dados são conjunturais ou haverá algum aproveitamento por parte das empresas?

Inês Reis: Julgo que não é conjuntural. Infelizmente, existe há muito tempo.

Carla Martins Branco: Não sendo uma defensora acérrima dos dias internacionais, acho que devemos chamar mais à atenção, sim, destas datas de referência.

Acho que as situações diferentes devem ser tratadas de formas diferentes: as mulheres e os homens são diferentes e, sobre isso, não há muito a dizer. Agora, homens e mulheres, devem ter as mesmas oportunidades de fazer as suas opções de vida, de trabalho.

Inês Reis: Repare que antes de resolvermos a questão do acesso ao topo, temos o dever de resolver o problema da desigualdade salarial, que é algo de absurdo.

HR: O que podemos, ou devemos fazer, nos restantes dias do ano?

Inês Reis: Antes de mais, educar os filhos de forma diferente, para que no futuro já não se diga que é uma questão cultural. É preciso começar agora e investir durante algumas gerações.

HR: Mas sendo as mulheres, ou melhor, tendo vindo a ser as mulheres as principais educadoras dos filhos, não lhe parece que as próprias mulheres têm alguma responsabilidade naquilo em que os filhos são?

Inês Reis: Pois, é verdade. Isso é verdade. É preciso mudar e, actualmente, temos esperança que as mulheres e os homens sejam ambos responsáveis pelo projecto educativo e social.

Carla Martins Branco: É preciso inverter essa realidade, sim. Até porque as mulheres, em Portugal, são a maior força de trabalho, comparando com outros países da Europa.

HR: Uma pergunta mais direccionada para a área profissional: o código do trabalho precisa de ser alterado para que nós, portugueses, sejamos mais produtivos? É mesmo uma necessidade?

Inês Reis: Sem dúvida que sim. Sei que há muitos colegas que dizem que não, mas eu acho que precisa mesmo de ser alterado, embora muitas outras coisas, ao nível da mentalidade, também necessitem de ser alteradas . É que enquanto os portugueses pensarem que ter trabalho e ter emprego são coisas diferentes, não vamos melhorar as nossas performances.

Carla Martins Branco: É a velha questão: “tenho um emprego, que bom; agora se trabalho, ou não, isso é outra questão”!

Inês Reis: Exactamente. As pessoas, em Portugal, confundem direito ao trabalho com direito ao emprego, e a maioria quer um emprego. Trabalhar, logo se vê!

HR: Por isso, é preciso flexibilizar algumas coisas e permitir que o fraco desempenho do trabalhador seja motivo de despedimento.

Carla Martins Branco: Isto é uma coisa que choca muitos colegas europeus, para já não falar dos americanos…

Inês Reis: É ridículo. Então, eu tenho um mau trabalhador, que não trabalha, que tem um desempenho assumidamente medíocre, e não o posso mandar embora? Não faz sentido.

HR: A questão das indemnizações não é o mais relevante, então…

Inês Reis: Não é o mais relevante, não! Aliás, julgo que poderemos criar uma situação social muito mais complicada-

Carla Martins Branco: É necessário focalizar nos desempenhos dos trabalhadores.

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